A responsabilidade de ser você mesmo    
 

Conta o filósofo oriental, Osho, que o bom de ser ancião é que você já está muito velho para dar mau exemplo e pode começar a dar bons conselhos. A verdade é que dentro de qualquer ancião há um jovem se perguntando o que aconteceu.
Falamos de jovens aborrecidos e não de anciãos amargurados porque sentem que suas vidas não são o que poderiam ter sido. Sentem-se trapaceados. Irritam-se ante a alegria dos jovens e não aceitam a si mesmos, porque vivem obcecados pela morte. Ninguém lhes ensinou a amar a vida, a amar a si mesmos, a assumir o único sentido da existência: ser feliz. E ser feliz é sermos nós mesmos, poder fazer as coisas porque nos dá vontade, não porque nos mandam ou para alcançar méritos para uma vida após a morte. Isto é uma chantagem das religiões e dos grupos de poder: adiar a felicidade para nos manter submissos. Atacaram o sexo e a alimentação, mas, sobretudo, a liberdade de pensar, de atuar, de dizer sim ou não sem prestar contas.
É bom o menino, o aluno, o trabalhador, o cidadão que obedece sem perguntar as causas da injustiça. Fizeram da obediência uma virtude. Um bom povo, para o que manda, é um rebanho que pasta sem fazer barulho. Não nascemos para trabalhar nem para obedecer.
É urgente a rebelião das pessoas idosas que sofrem de solidão como ante-sala da morte. Nunca é tarde para amadurecer - sem confundir o envelhecimento, que é coisa do corpo, com a maturidade, que é crescer para dentro e saborear a vida. Uma coisa é o Céu da consciência, com suas possibilidades de crescimento interior, e outra, a passagem das nuvens da mente. Descobrir-nos gotas num oceano de silêncio é transformar a existência numa celebração. É descobrir o universo no orvalho.
Não há maior provocação do que ser você mesmo. Atrever-se a ser, a discordar, a gozar e a se realizar em harmonia com o universo. O sábio aceita a realidade impondo-lhe seu selo: para fazer o que queremos, temos que querer o que fazemos. Porque nada pode morrer, apenas mudar de forma. A existência nada sabe da velhice, sabe de frutificar. Já temos o que buscamos. É preciso despertar.
Maturidade significa que chegamos a casa. A maturidade é consciência, o envelhecimento, só desgaste. Ainda há tempo para se trocar de trem.


 

José Carlos Gª Fajardo

Este artículo fue publicado en el Centro de Colaboraciones Solidarias (CCS) el 12/09/2005