Exigência ética

Aumenta a diferença entre os mais ricos e os mais desfavorecidos: 250 mil pessoas entram todos os dias para o setor de quem luta pela sobrevivência. Como se a vida não fosse um dom, mas sim o cumprimento de uma sentença: condenados a viver.
Dados aterrorizantes correm o risco de banalizarem-se diante do excesso de informação controlada por interesses que procuram amortizar nossa sensibilidade, transformando tudo em costume.
Mas uma mentira nunca poderá ser verdade, por mais que se repita, ainda que acabe sendo acreditada. Nem uma proposição precisa ser certa para que arraste as massas.
Veja aonde conduziram ideologias aberrantes tornadas ortodoxias.
Daí a importância de manter viva a memória, submetida à reflexão, para ver nosso comportamento como pessoas: nisso consiste a cultura. Do mesmo modo que a educação não é mera transmissão de conhecimentos, senão tirar o melhor de cada ser humano num ambiente geral de liberdade e de participação, animados pela paixão da justiça.
Hoje sabemos que nossa submissão e o controle de nosso espírito não serão conquistados pela força, mas através da sedução. Fazem-nos acreditar que, por nosso próprio bem, devemos nos inserir no sistema sem pedir explicações.
Mas no conflito entre o poderoso e o pobre, não intervir não significa ser neutro, mas colocar-se ao lado do poderoso.
A legalidade se torna justiça pela voz do povo. Celebremos esta geração de ativistas culturais que se manifestam ante presunçosas reuniões de oligarcas para protestar contra um sistema que produz injustiça social. A globalidade é um feito, os efeitos de um pensamento globalizado são perversos. Não podemos aceitar democracia à escala nacional, com plutocracia à escala mundial. A não-conformidade é uma exigência ética. Não a afoguemos em nome da ordem estabelecida.

José Carlos Gª Fajardo
* Professor de Pensamento Político (UCM) e Diretor do CCS
Traduzido por Viviane Vaz Cabral Nery

Este artículo fue publicado en el Centro de Colaboraciones Solidarias (CCS) el 18/1/2006