Não sabiam que era impossível
Por isso o fizeram.
Porque poucos prazeres são tão fortes como ver avançar
as causas que parecem impossíveis. Toda a história da humanidade
foi construída por façanhas, por fatos memoráveis,
já que vão fecundados pela sabedoria. Foram gerados pela
experiência e engendram fatos novos. "Não escrevemos para que saibam, mas sim para que não se esqueçam." Por este motivo, não podemos permitir que coloquem à venda a memória e privatizem-na. Não só porque começaríamos a perder a nós mesmos, mas também porque a memória é a única esperança que nos resta para ver um amanhã que está em nós, apesar de abandonado do outro lado do espelho. Temos que nos resgatar do esquecimento para não sermos privatizados, homologados e percamos a magia da palavra. Temos que dar o melhor espaço para a palabra que transita e deixar que seja ela que nos busque e nos encontre. Somos gente porque a palabra transita em nós, e se realiza em um você que a acolhe. A palavra gente é sinônimo de máscara que se expressa mediante gestos. Se não há um você, não há palavra, mas apenas um ruído. " Que falem todos os que são diferentes. Que falem e encontrem a memória, que com ela conspirem e lavrem para todos." Às vezes, a vida parece pesar porque a tomamos como substantivo e é preciso arriscar-se no infinitivo. André Malraux respondeu ao General de Gaulle: "ainda que a vida não tivesse sentido, tem que ter sentido viver". Não nos atrevemos a discrepar e nos aferramos ao vazio conceito da segurança que nos vendem sobre mil formas. Como se houvesse algo mais seguro que a incerteza portadora de desafios que transformam os problemas. Talvez a frase mais reveladora do Quixote seja "Eu sei quem sou, amigo Sancho." Diante do mal-estar de um mundo em crise, é preciso agarrar-se à memoria e dar espaço à palavra. Dentro do labirinto de espelhos em que se converteu a história contemporânea, há que talhá-los e convertê-los em cristais para vermos o que podemos ser. "Os espelhos são para ver deste lado, os cristais são para atravessá-los e passar ao outro lado". E começarmos a ser felizes querendo o que fazemos, para superar esta solidão coletiva que fará uma crise se nos propusermos. Resgatemos a memória do esquecimento. |
José Carlos Gª Fajardo
Este artículo fue publicado en el Centro de Colaboraciones Solidarias (CCS) el 10/05/2004