O envelhecimento da população como ameaça

Em 1914, quando estourou a Primeira Guerra Mundial com o assassinato do arquiduque Fernando em Sarajevo, a população do planeta não passava de 1,1 bilhão de pessoas. Em 2000, num hospital também de Sarajevo, o Secretário Geral da ONU recebia em seus braços o menino de número “seis bilhões”.
Este drama de proporções inimagináveis só pode ser enfrentado mediante a educação das mulheres e sua promoção a postos de trabalho e de responsabilidade que lhes correspondem que, no mínimo, são iguais aos dos homens. Há uma regra de ouro para comprová-lo: em todos os países nos quais as mulheres têm acesso a esse direito natural não existem problemas de explosão demográfica. Ao contrário, em todos esses países, que se revelam os mais ricos e desenvolvidos, o problema é o do envelhecimento progressivo e irremediável da população.
Todas as agências da ONU não pararam de alertar sobre este tema os responsáveis políticos e econômicos, que exploram a globalização alcançada pelas novas tecnologias com o modelo de neoliberalismo selvagem, que cada dia enriquece mais os ricos e empobrece até a miséria os mais pobres. É a escandalosa fórmula do 20/80: 20% vivem bem e 80% da humanidade passam por privações. É necessário recordar que o relatório de 1998 do PNUD declarou que com 40 bilhões de dólares por ano, em dez anos seria possível acabar com a fome no mundo; cobrir as necessidades fundamentais de saúde; cuidar da potabilidade das águas e as infra-estruturas sanitárias; garantir a saúde reprodutiva das mulheres; e conseguir o acesso à educação básica de todos os seres humanos.
A educação e a promoção da mulher, como coluna vertebral do desenvolvimento nos povos empobrecidos, são fundamentais para enfrentar a catástrofe que ameaça a humanidade. Aquele número é inferior ao aumento de 50 bilhões de dólares anuais que o Congresso dos EUA acaba de aprovar para gastos em "defesa", mais as centenas de milhões aprovados contra o terrorismo, isto é, para tomar o controle das fontes de energia do planeta.
Isto é um autêntico terrorismo dos EUA e da ineficaz União Européia que não é capaz de atuar com coerência.
Muitas pessoas se perguntam para que servem tantas cúpulas multitudinárias que não aprovam nada que não tenham negociado antes, de acordo com seus interesses particulares. É uma provocação perigosa às massas de deserdados que não têm nada a perder e podem escolher morrer destruindo.
Desde a Cúpula de Copenhague em 1995, Boutros Gali alertou sobre a explosão social que se aproxima. Na Cúpula de Monterrey, assistimos à vergonha do desprezo dado as suas advertências e às de multidões de pessoas da sociedade civil que se converteram em movimentos de resistência global ante este despotismo desumano.
Recordemos as dez propostas daqueles foros sociais: anular a dívida dos países mais pobres; arbitrar um sistema generoso para regular a do resto dos países do Sul; que os financiamentos futuros sirvam para um desenvolvimento sustentável; que os países mais ricos destinem 0,7% de sua riqueza para financiar o desenvolvimento que negam aos pobres na Cúpula de Monterrey; revisar os intercâmbios entre o Norte e este Sul que financia o desenvolvimento do Norte com suas matérias-primas, os juros da dívida e a sistemática exploração; garantir a autonomia alimentar em cada país; gravar as transações financeiras especulativas; acabar com os paraísos fiscais e proibir o segredo bancário que permite lavar bilhões de dólares produto do crime, do narcotráfico e do tráfico de armas.
Até 2050, as pessoas maiores de sessenta anos serão mais numerosas do que as menores de quinze. O aumento dos sexagenários tem sido constante desde 1950. Atualmente, no mundo há mais de seiscentos milhões de anciãos, três vezes mais que há cinqüenta anos. Em 2050 serão dois bilhões, ou seja, 21% da população.
Cada vez vão se fazer sentir com mais força as conseqüências sócio-econômicas sobre o mercado de trabalho, o pagamento das aposentadorias e o crescimento econômico. Quem vai trabalhar para atender a tantas necessidades?
O Japão, com uma média de 45 anos, é a sociedade mais velha do mundo, seguido da Itália, Suíça e Alemanha. A média mais jovem é ostentada pelo Iêmen, Níger e Uganda, com 15 anos. A Espanha será a decana da humanidade com uma média de 55 anos antes de três décadas, se os imigrantes não ajudarem a remediá-lo.
É oportuno atender a estes critérios na hora de considerar fenômenos como a imigração; o desenvolvimento social sustentável nos países do Sul; o desperdício em armamentos e em modelos de desenvolvimento dos quais se vingará a natureza se não atendermos com generosidade e com justiça a seus requerimentos.
O maior perigo que ameaça a humanidade não é o terrorismo, nem as bombas de destruição massiva: é a explosão demográfica com o progressivo envelhecimento da população.

José Carlos Gª Fajardo

Traduizido por Viviane Vaz