Para quê ter pressa?             
 

A chave para entender a concepção existencial dos africanos está na relação com o tempo: preocupam-se com o passado, Zamani, em direção ao qual nos encaminhamos, e vivem o presente como capacidade de plenitude, Sasa. Em muitas línguas africanas não existem palavras para designar o futuro, e utilizam a mesma palavra para “tempo” e “espaço”. O que é o tempo? A relação com os nossos antepassados. Venera-se os anciãos porque estão mais amadurecidos.
Sasa é o período mais significativo, porque é uma extensão experiencial do presente que se projeta no passado ilimitado. Não creem no “progresso”, nem em um suposto “desenvolvimento”. Não “se nasce do todo” até que não se tenha passado por todo o processo: receber um nome, passar por rituais de puberdade e engendrar filhos. A morte conduz à plenitude Zamani.
Nascem para a vida imortal; não se vão da vida para a morte, como no Ocidente. Nosso conceito linear do tempo é estranho para o pensamento africano. O futuro não faz sentido porque não ocorreu. É só uma extensão do presente. Existem calendários com os quais se calculam os acontecimentos: uma mulher grávida conta os meses lunares de sua gravidez; um viajante, os dias que demora para se deslocar entre dois lugares. Quando alguém avisa que o encontrarão “à saída do sol”, não importa a quê hora; o importante é se encontrar.
Isto desconcerta os ocidentais, pois converteram o tempo e o espaço em valores econômicos. Na África, o tempo não se “tem”, é preciso “fazê-lo” e o conteúdo define o espaço.
Os ocidentais quando chegam à África e vêem as pessoas sentadas, “sem fazer nada”, dizem que “perdem tempo” ou que “sempre chegam tarde”. É fruto da ignorância, como aconteceu com os missioneiros, os colonizadores, e alguns “cooperadores” analfabetos de suas tradições. Os que se sentam “sem fazer nada” não estão “perdendo” tempo. Como vão perder o que não têm? Esperam o tempo. É algo importante, porque a vida econômica africana está muito ligada a este conceito de tempo. E os ocidentais, assim como os africanos desarraigados, destruem estas raízes com resultados conhecidos. São mais felizes assim? É disso que se trata: não de produzir, mas de ser feliz.
O conceito africano do tempo é indiferente. A eternidade jaz no passado ao qual nos aproximamos. Somos mais felices, nós, ocidentais? Quem tem o quê quando falamos de espaço e tempo?
 

José Carlos Gª Fajardo

Este artículo fue publicado en el Centro de Colaboraciones Solidarias (CCS) el 9/12/2004